Um novo relatório publicado no The Journal of Clinical Psychiatry reacendeu o debate sobre a segurança do finasterida, medicamento amplamente usado no tratamento da calvície masculina. A análise sugere que o remédio pode estar relacionado a maior risco de depressão e comportamento suicida, especialmente entre homens que o utilizam por motivos estéticos.
O estudo foi conduzido pelo professor Mayer Brezis, da Universidade Hebraica de Jerusalém, que criticou tanto a fabricante original, a Merck, quanto a Agência de Administração de Alimentos e Medicamentos dos Estados Unidos (FDA), por não investigarem de forma adequada os possíveis efeitos colaterais do medicamento nem alertarem devidamente o público.
Brezis afirma que, ao longo de duas décadas, centenas de milhares de homens podem ter desenvolvido depressão e centenas podem ter cometido suicídio após o uso da finasterida, que ele classifica como um “medicamento de finalidade cosmética”.
“O atraso em reconhecer os riscos associados à exposição à finasterida reflete a falha do fabricante em realizar estudos simples de farmacovigilância e a omissão dos órgãos reguladores em exigir tais análises”, escreveu o pesquisador.
O que dizem os especialistas
Embora o artigo tenha chamado atenção para os riscos psiquiátricos do medicamento, especialistas afirmam que o texto é um comentário e não um estudo clínico conclusivo.
O dermatologista Anthony Oro, da Universidade Stanford, explicou que o documento “resume estudos anteriores que associaram a finasterida a doenças neuropsiquiátricas, incluindo suicídio”, mas reforçou que ainda faltam evidências definitivas.
Já o urologista Ramkishen Narayanan, do Providence Saint Joseph Medical Center, acredita que o relatório “reforça a necessidade de mais pesquisas”, mas não justifica restringir o uso do medicamento.
A Organon, empresa que atualmente fabrica a finasterida, afirmou em nota que “mantém a confiança na segurança e eficácia de seus produtos” e destacou que “as agências regulatórias revisaram minuciosamente os dados antes da aprovação e continuam acompanhando a segurança após a comercialização”.
Pesquisas reforçam relação entre o medicamento e sintomas depressivos
O comentário de Brezis baseou-se em oito análises independentes realizadas entre 2017 e 2023, que apontaram aumento significativo do risco de depressão, ansiedade e comportamento suicida entre homens que utilizam finasterida para tratar queda de cabelo.
Segundo o pesquisador, os sintomas podem persistir mesmo após a interrupção do uso. Ele também lembrou que as primeiras advertências sobre os efeitos mentais do remédio foram publicadas ainda em 2002, mas levaram duas décadas para receber atenção adequada.
Em resposta, a FDA incluiu depressão no rótulo da finasterida em 2011, e suicidalidade em 2022. Desde então, a agência recebeu mais de 700 notificações de pensamentos suicidas ou tentativas de suicídio entre usuários do medicamento.
Diferentes dosagens, diferentes perfis
A finasterida é usada em duas versões principais:
- 1 mg, para tratar calvície masculina (Propecia);
- 5 mg, para tratar hiperplasia prostática benigna (Proscar).
Os especialistas ressaltam que os riscos mentais parecem mais presentes na dose menor, o que pode estar relacionado ao perfil psicológico dos pacientes que buscam o tratamento estético.
O cirurgião Ken Williams, especialista em restauração capilar na Califórnia, observa que “homens jovens com calvície já enfrentam altos índices de baixa autoestima e depressão”, o que pode potencializar os efeitos emocionais do medicamento.
Propostas de mudança e novas recomendações
Brezis defende que a comercialização da finasterida para fins estéticos seja suspensa até que sua segurança seja comprovada, e propõe o registro obrigatório do histórico de uso do medicamento em investigações de suicídio.
Além disso, especialistas sugerem que médicos adotem uma abordagem multidisciplinar, investigando o estado emocional do paciente antes da prescrição. Caso existam sinais de vulnerabilidade, terapias psicológicas ou antidepressivos devem ser considerados como tratamento prévio.
“Cada paciente é único”, destacou Oro. “Meu conselho é que todos leiam os possíveis efeitos adversos, conversem com o médico e, diante de qualquer sintoma, interrompam o uso imediatamente.”
Entenda a finasterida
A finasterida é um medicamento que atua bloqueando a conversão da testosterona em di-hidrotestosterona (DHT), hormônio responsável pela miniaturização dos folículos capilares.
Embora eficaz, pode causar efeitos adversos, como:
- Diminuição do desejo sexual
- Dificuldade em manter ereção
- Aumento das mamas
- Irritação na pele
Efeitos graves, ainda que raros, incluem depressão, inchaço facial e secreção nos mamilos.
A calvície e o impacto psicológico
A alopecia androgenética é responsável por cerca de 95% dos casos de queda de cabelo em homens. A Associação Americana de Queda Capilar estima que dois terços dos homens apresentem algum grau de calvície até os 35 anos, e 85% até os 50.
Além da carga estética, a perda de cabelo costuma afetar profundamente a autoimagem, o que reforça a necessidade de acompanhamento psicológico durante o tratamento.














