Há exatos 27 anos, no Dia de Finados de 1998, o Brasil se despedia de Jovelina Pérola Negra, uma das vozes mais marcantes do samba. Nascida Jovelina Farias Belfort, no Rio de Janeiro, em 21 de julho de 1944, a cantora e compositora levou sua força e autenticidade do subúrbio carioca para o cenário musical nacional, tornando-se um dos grandes nomes da música popular brasileira.
Jovelina morreu aos 54 anos, vítima de infarto, enquanto dormia em sua casa, no bairro da Pechincha, no Rio de Janeiro. Foi sepultada no cemitério do mesmo bairro, deixando três filhos e um legado que atravessou gerações.
Da Baixada ao sucesso nacional
Criada na Baixada Fluminense, Jovelina viveu de trabalhos simples antes de alcançar os palcos. Foi lavadeira, babá e vendedora de rua, enquanto sonhava com a música. Sua ascensão começou tardiamente, aos 41 anos, quando gravou pela primeira vez em disco.
O reconhecimento veio com o álbum “Raça Brasileira”, uma coletânea que apresentou novos talentos do samba e revelou Jovelina ao grande público. De voz rouca, potente e inconfundível, ela se destacava nas rodas de samba da Zona Norte do Rio e nas festas da Império Serrano, escola que sempre defendeu com orgulho.
Chamavam-na de “mãe do pagode”, título simbólico para uma artista que traduziu em versos as vivências da periferia, a resistência da mulher negra e a afirmação da cultura popular.
O samba como instrumento de identidade
Jovelina transformou o partido alto, estilo de samba que privilegia o improviso e o refrão coletivo, em palco de expressão política e cultural. Suas canções abordavam o cotidiano das comunidades, o racismo e a luta por dignidade.
Entre seus maiores sucessos estão “Feirinha da Pavuna”, “Bagaço da Laranja” (em parceria com Zeca Pagodinho), “Luz do Repente”, “No Mesmo Manto” e “Garota Zona Sul”. Gravou cinco discos e conquistou Disco de Platina, consolidando-se como uma das grandes intérpretes do samba moderno.
Mesmo com o sucesso, Jovelina não realizou o sonho de “dar aos filhos tudo o que não teve”, como costumava dizer em entrevistas. Ainda assim, tornou-se símbolo de força e autenticidade, especialmente para as mulheres negras do samba.
Herança e homenagens
Após sua morte, o legado de Jovelina continuou vivo em shows, escolas de samba e homenagens. Em 2012, a Arena Carioca Jovelina Pérola Negra, na Pavuna, recebeu o espetáculo “Viva Jovelina – Pérola Negra do Samba”, com participações de artistas como Sombrinha, Aninha Portal e Cassiana Belfort, sua filha.
Em 2022, o Google homenageou a artista com um doodle especial em seu aniversário de 78 anos. A ilustração, criada pela artista La Minna, mostrava Jovelina cantando com um microfone na mão, inspirada nas rodas de samba de quintal.
No Carnaval de 2024, a escola Lins Imperial levou para a avenida o enredo “A Pérola Negra do Samba”, celebrando sua trajetória. No ano seguinte, o espetáculo homônimo, dirigido por Luiz Antônio Pilar e escrito por Leonardo Bruno, reforçou o reconhecimento da cantora como uma das grandes vozes da cultura afro-brasileira.
Discografia essencial:
| Ano | Título | Gravadora |
|---|---|---|
| 1985 | Jovelina Pérola Negra | RGE |
| 1986 | Arte do Encontro | Som Livre |
| 1987 | Luz do Repente | RGE |
| 1988 | Sorriso Aberto | RGE |
| 1990 | Amigos Chegados | RGE |
| 1991 | Sangue Bom | RGE |
| 1996 | Samba Guerreiro | RGE |
















