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As mesas idênticas que o cérebro jura que são diferentes

Você olha e jura que não são iguais. Uma mesa parece longa e estreita, a outra quase quadrada. Mas, por mais inacreditável que pareça, as duas são exatamente do mesmo tamanho e formato. A famosa ilusão das mesas de Shepard, criada em 1990 pelo psicólogo norte-americano Roger N. Shepard, segue sendo uma das mais impressionantes provas de como nossa mente pode distorcer o que vemos.

As mesas idênticas que o cérebro jura que são diferentes
A ilusão que engana o cérebro há 30 anos

A ilusão, publicada pela primeira vez no livro Mind Sights, mostra dois paralelogramos idênticos, girados em ângulos diferentes. Quando apresentados como se fossem tampos de mesa, o cérebro humano automaticamente tenta reconstruir uma cena tridimensional. O resultado é uma confusão perceptiva: uma das mesas parece recuar na distância, enquanto a outra se mostra quase quadrada.

A ilusão que desafia o intelecto

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Outubro Rosa

O próprio Shepard afirmou que, mesmo sabendo que as figuras são idênticas, é impossível eliminar o efeito visual.

“Qualquer conhecimento ou compreensão da ilusão que possamos obter no nível intelectual permanece impotente para diminuir a magnitude da ilusão”, escreveu o pesquisador.

Roger Shepard, pioneiro na pesquisa sobre imagens mentais — Crédito: LA Cicero

A explicação está em um fenômeno conhecido como constância de tamanho e forma, uma adaptação evolutiva que nos permite interpretar o mundo em três dimensões. O cérebro tenta ajustar automaticamente o que vê, expandindo ou comprimindo proporções de acordo com o que entende ser a perspectiva do espaço.

Pesquisas mostram que a ilusão provoca erros de cálculo de até 25% nas estimativas de comprimento, o que a torna uma das mais poderosas ilusões geométricas já registradas.

Nesta ilusão de ótica desenhada por Shepard, os tampos das mesas parecem ter comprimentos e larguras diferentes. Mas são idênticos — Crédito: “Turning the Tables”, de Mind Sights (WH Freeman and Co., 1990)

Um cérebro que busca coerência

Para Shepard, o fascínio por ilusões visuais começou cedo, ainda na infância, em Palo Alto, Califórnia, onde nasceu em 1929. Formado em Psicologia pela Universidade de Stanford e doutor pela Universidade de Yale, ele dedicou a carreira a compreender como o cérebro humano interpreta (e distorce) o mundo visual.

Na década de 1950, Shepard estudou como pessoas e animais reconhecem semelhanças entre estímulos, como cores, sons e formas. Descobriu, por exemplo, que quando alguém compara dois objetos girados, o cérebro “reorienta” mentalmente um deles, a uma velocidade constante de cerca de 60 graus por segundo.

Da curiosidade infantil à ciência cognitiva

Depois de atuar nos Laboratórios Bell, onde chefiou pesquisas em percepção e processamento de dados, Shepard se tornou professor em Harvard e, mais tarde, em Stanford, onde consolidou sua reputação como um dos fundadores da ciência cognitiva moderna. Em 1995, recebeu a Medalha Nacional de Ciência dos Estados Unidos, reconhecimento máximo concedido a cientistas que transformam o entendimento da mente e do comportamento humano.

A ilusão das mesas, embora simples, sintetiza uma das maiores descobertas de Shepard: a percepção não é um reflexo fiel da realidade, mas uma interpretação ativa e falível construída pelo cérebro.

Outras curiosidades sobre a ilusão

Estudos posteriores mostraram que crianças com transtorno do espectro autista tendem a ser menos suscetíveis à ilusão das mesas, embora sejam igualmente afetadas por outras ilusões, como a de Ebbinghaus (em que círculos idênticos parecem de tamanhos diferentes dependendo do contexto). Isso sugere que o efeito das mesas depende fortemente de mecanismos sociais e perceptivos de interpretação espacial.

Além disso, versões alternativas da ilusão, usando trapézios idênticos em vez de paralelogramos, produzem efeitos semelhantes, reforçando a ideia de que o cérebro “vê” profundidade onde há apenas linhas planas.

Em 2009, uma variação da ilusão de Shepard foi eleita a “Melhor Ilusão do Ano” em um concurso internacional de percepção visual, provando que, mesmo décadas depois, a criação de Roger Shepard continua desafiando o olhar humano.

Ver para (não) crer

As mesas de Shepard revelam um paradoxo fascinante: o que vemos nem sempre é o que é. Mesmo com medições, sobreposições e explicações racionais, a mente insiste em acreditar no engano. É a prova de que, no jogo entre o olho e o cérebro, a realidade pode ser apenas uma questão de perspectiva.

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