A Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) concedeu, na segunda-feira (29), o título de Doutora Honoris Causa à escritora Conceição Evaristo. A cerimônia foi realizada no auditório da Reitoria e reuniu público diverso que lotou o espaço para acompanhar a homenagem.

Autora de romances, contos e poesias que marcaram a literatura brasileira contemporânea, Conceição tornou-se a terceira mulher e a primeira negra a receber a distinção da UFMG. Em discurso emocionado, a escritora afirmou que a homenagem ajuda a preencher o vazio deixado por sua partida precoce de Minas Gerais rumo ao Rio de Janeiro. “Escrever é um exercício de coragem, principalmente se a escrita passa pelas nossas experiências pessoais. Ser reconhecida como escritora negra neste país tem um significado muito forte”, declarou.
Ao longo da fala, Conceição fez referências poéticas à relação com sua terra natal, que, segundo ela, “a amanhece”. Relembrou momentos de proximidade com Minas, como quando suas obras foram selecionadas em vestibulares da UFMG e da Uemg, e sua eleição para a cadeira 40 da Academia Mineira de Letras.
A reitora da UFMG, Sandra Goulart Almeida, destacou que a autora construiu sua trajetória literária a partir da memória coletiva, da ancestralidade e da identidade negra, valores que dialogam diretamente com os princípios da instituição. Para Sandra, a “escrevivência” de Conceição Evaristo — termo cunhado pela escritora — rompe paradigmas ao valorizar as experiências de mulheres negras e das classes populares.
A homenagem partiu da Congregação da Faculdade de Letras da UFMG. A professora Sandra Gualberto Bianchet lembrou que Conceição é a segunda personalidade da área das Letras a receber o título, após o português José Saramago, em 1999. Já a professora Constância Lima Duarte ressaltou que as obras da autora ultrapassam a dimensão biográfica, unindo testemunho e ficção em narrativas marcadas pela resistência e pela memória.
A escritora foi calorosamente recebida pela plateia, atendeu fãs, tirou fotos e autografou exemplares de seus livros. Sua trajetória inclui a publicação de obras como Ponciá Vicêncio, Becos da Memória, Olhos d’água e Insubmissas lágrimas de mulheres, traduzidas e reconhecidas internacionalmente. Em março de 2024, ela passou a ocupar a cadeira 40 da Academia Mineira de Letras.
Criada em 1928, a honraria já foi concedida a nomes como Juscelino Kubitschek, José Saramago e Maria Lúcia Godoy. Conceição Evaristo agora integra essa lista, consolidando sua presença como uma das vozes mais relevantes da literatura brasileira.