Duas das mais emblemáticas igrejas coloniais de Minas Gerais terão suas estruturas e obras de arte integralmente restauradas. A Igreja Matriz de Nossa Senhora de Nazaré e a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, ambas localizadas no distrito de Santa Rita Durão, em Mariana, serão recuperadas por meio de um acordo firmado entre a Arquidiocese de Mariana, o Ministério Público de Minas Gerais (MP-MG) e a mineradora Samarco, assinado em 22 de setembro.

O termo prevê que a empresa arque com todos os custos dos projetos e das obras, com valores que podem chegar a R$ 1,2 milhão para elaboração técnica e até R$ 30 milhões para execução da restauração. O repasse será realizado por meio da Plataforma Semente do MP-MG, de acordo com as planilhas orçamentárias que detalham o custo exato das intervenções.
Segundo a Arquidiocese, a expectativa é iniciar em breve a contratação dos projetos arquitetônicos, estruturais e artísticos necessários à restauração completa dos templos. O anúncio foi recebido com entusiasmo pela comunidade local, que há anos aguardava a revitalização dos espaços.
“Com grande alegria acolhemos a notícia da destinação de recursos financeiros para a restauração das igrejas. É um momento importante e histórico para a comunidade paroquial, que esperava especialmente pela recuperação da Igreja do Rosário”, afirmou o pe. Jorge Henrique Abreu Tanus, administrador paroquial da Nossa Senhora de Nazaré.
Patrimônio do barroco mineiro
A Igreja Matriz de Nossa Senhora de Nazaré é considerada um dos exemplos mais expressivos do barroco mineiro. Sua construção original data de 1729, mas foi reconstruída na segunda metade do século XVIII, quando recebeu novas talhas e pinturas de artistas consagrados, entre eles Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, e o pintor João Batista de Figueiredo.
O forro da nave e da sacristia traz o painel central “Milagre de Nazaré”, em perspectiva ilusionista, além de representações de santos e doutores da Igreja. Já o retábulo-mor, finalizado em 1794, é atribuído a Antônio Tavares, no estilo Dom João V, com ornamentações douradas e entalhes minuciosos que marcam o período de transição entre o barroco e o rococó.
Além de seu valor estético, a matriz guarda um importante testemunho histórico da religiosidade e do trabalho artístico desenvolvido em Mariana no século XVIII — um patrimônio que agora será protegido contra o desgaste do tempo.
Legado e devoção em Santa Rita Durão
A poucos metros da matriz, a Igreja de Nossa Senhora do Rosário também será contemplada pelo projeto. De arquitetura singela, construída em adobe, madeira e pau-a-pique, o templo é um símbolo da fé e da resistência da antiga irmandade de pretos do distrito.
Documentos do século XVIII já mencionavam suas festividades em homenagem à padroeira, incluindo reisados, congados e procissões. O templo foi tombado pelo Iphan em 1945, reconhecido por seu valor histórico e artístico.
No interior, destaca-se o altar de Santa Efigênia, atribuído ao jovem Aleijadinho, ainda em fase inicial de carreira, mas já revelando a força expressiva que marcaria sua obra. As pinturas e madeiras entalhadas, em tons de azul e dourado, completam o conjunto em perfeita harmonia rococó.
A restauração dessas duas igrejas simboliza mais do que a preservação de monumentos: é a reconstrução de parte da memória espiritual e artística de Minas Gerais. Para os moradores, representa o renascimento de espaços que há séculos abrigam orações, festas e tradições — e que agora voltarão a brilhar em sua forma original.
Fonte: Arquidiocese de Mariana-MG