Manobol não funciona, maldição continua e Cruzeiro é novamente eliminado da Libertadores

Maicon Costa
9 MIN DE LEITURA

E a maldição continua. Pela quarta vez seguida o Cruzeiro é eliminado da Libertadores por um time argentino. A equipe celeste empatou em casa com o River Plate, por 0 a 0, e, nos pênaltis, foi eliminada após erros de Henrique e David. O River acertou todas as suas cobranças.

Com a eliminação, o Cruzeiro passa a disputar duas competições: o Campeonato Brasileiro e a Copa do Brasil. Maior sonho da torcida, o tri da Copa Libertadores foi adiado mais uma vez. Após a eliminação, o técnico Mano Menezes foi duramente criticado. Apesar de o time celeste fazer boa partida no Mineirão, a falta de objetividade e movimentação ofensiva rendeu duras críticas.

Em 180 minutos de confronto o time celeste teve apenas uma chance clara de gol. Isso porque o time foi considerado mais ofensivo, principalmente no segundo jogo. Após se dar bem em diversas oportunidades, seja em disputas de pênalti, ou em classificações com gol qualificado, uma hora a derrota iria chegar. E veio. É o preço a se pagar por quem sempre escolhe andar a beira do precipício.

O jogo

A partida foi bem jogada, apesar de poucas chances claras de gols se apresentarem para as duas equipes. O River Plate até manteve certa intensidade nos inícios de cada tempo, mas logo, com o passar dos minutos, se retraia. Fazendo uma má partida, os argentinos mantinham a posse de bola, mas não conseguiam se infiltrar na defesa celeste. E quando recuperava a bola, o Cruzeiro encontrava espaços para contra-atacar. Mas poucas opções de ataque e erros nas tomadas de decisão e no último passe faziam o time mineiro desperdiçar as chances. Na segunda metade da etapa final, os dois times já pareciam esperar os pênaltis e nada de muito animador foi visto.

Manobol não funciona, maldição continua e Raposa é novamente eliminada da Libertadores
Crédito da foto: Reuters

Maldição

Ontem escrevi que o Cruzeiro precisava quebrar a maldição argentina que rondava o time. Desde 1976, quando venceu a final da Libertadores em cima do River Plate, o Cruzeiro. De lá para cá foram sete eliminações para times da Argentina. Para o Boca Juniors foram três, em 1977, 2008 e 2018. O River, por sua vez, eliminou duas, em 2015 e em 2019. Estudiantes e San Lorenzo foram os responsáveis pelas outras, em 2009 e 2014.

E algo que vem sendo recorrente nessas eliminações são lances de gols perdidos absurdos, que parecem já entregar o que vai acontecer ao fim da partida. Em 2009, quando o placar marcava 2 a 1 para o Estudiantes, na fatídica final, Thiago Ribeiro mandou um chute na trave. Em 2014, com 1 a 0 para o San Lorenzo, no Mineirão, após uma finalização de Marcelo Moreno, a bola bateu numa trave, andou caprichosamente por cima da linha e bateu na outra trave, antes de ser mandada para escanteio pela zaga.

Em 2015, contra o River, Willian Bigode errou uma finalização cara a cara, ainda no 0 a 0, também em casa. Já em 2018 foram dois lances. Na ida, o volante Barrios, do Boca, salvou uma finalização de Rafinha em cima da linha. Na volta, Raniel tentou dominar uma bola com o gol aberto a sua frente e acabou perdendo a chance.

E agora, em 2019, foi a vez de Pedro Rocha. Após cruzamento de Thiago Neves, o jogador ficou com a sobra, na pequena área, e fuzilou o gol de Armani. A bola bateu no goleiro adversário, subiu, acertou o travessão e sobrou para Romero, que chutou para fora, com o goleiro batido. Lances emblemáticos que marcam as eliminações celestes.

Pênaltis

Nas cobranças de pênalti, o River Plate foi perfeito. Acertou os quatro, sem dar chances a Fábio. Já o Cruzeiro pecou. Henrique, após uma longa paralisação para retirada de um cameraman do campo, que pode ter desconcentrado o jogador, bateu mal e Armani pegou. Em seguida, Fred converteu. David, que entrou basicamente para bater pênalti, foi displicente e bateu mal. Robinho acertou o dele, mas aí já não adiantava. 4 a 2 para os argentinos.

Manobol não funciona, maldição continua e Cruzeiro é novamente eliminado da Libertadores
Henrique erra primeiro pênalti da disputa – Crédito da foto: Marcelo Alvarenga/BP Filmes

Manobol

Muito criticado no ano, o Manobol (apelido dado para o estilo de jogo defensivo instituído por Mano Menezes) não funcionou. Apesar de ser mais ofensivo que o comum, o Cruzeiro teve apenas uma chance de real perigo no jogo, o que é assustador. Um time qualificado, que joga em casa, com estádio lotado e precisa de um golzinho não pode criar tão pouco. É claro que não se espera que o time vá desembestado ao ataque, mas um lance perigoso em 180 minutos é pouco.

O Cruzeiro ataca com poucos jogadores e desperdiça inúmeras chances por isso. É frequente ver nos movimentos ofensivos celestes dois pontas isolados e alguém chegando no meio. Se atrás pouco sofre, na frente é sofrível. E jogar numa linha tão tênue uma hora dá errado. Seja por uma falta, um chute de fora da área, ou um lance de sorte do adversário. Nas penalidades a ideia é a mesma. Levar jogos para os pênaltis, mesmo com um goleiro qualificado e bons batedores não é garantia. Não chega a ser a loteria que falam, mas muitos fatores podem influenciar.

Ciclo

Nos últimos mata-matas, dificilmente o Cruzeiro passa com tranquilidade. E poderia passar se quisesse ou tentasse. Ou será que o fraco Fluminense, cheio de renegados e jogadores sub-18, realmente é páreo para o time celeste em casa? O clube mineiro pode entregar muito mais e com muito mais tranquilidade. O 1 a 1 com o Flu na ida das oitavas da Copa do Brasil prova isso. Um chute a gol em 90 minutos, contra um time absolutamente inferior. O ciclo de Mano Menezes parece ter acabado.

O time se tornou previsível e nada criativo. Os adversários aprenderam a enfrentar o Cruzeiro. Para o ano que vem passa a ser necessária uma reformulação geral. Diretoria, treinador e alguns atletas. É hora de se reinventar.

Manobol não funciona, maldição continua e Cruzeiro é novamente eliminado da Libertadores
Crédito da foto: EFE/ Yuri Edmundo

Sequência do Cruzeiro

Enquanto isso já são uma vitória em 17 jogos, num clássico, que é um jogo à parte. E o ótimo Internacional vem aí na Copa do Brasil. E a zona de rebaixamento já assombra, pelo Brasileiro. Se pelo lado óbvio, a eliminação foi ruim, por outro ela pode ser positiva.

O time celeste poderá focar no nacional e espantar o Z4, sem precisar poupar em todos os jogos. Além de também poder se concentrar melhor na Copa do Brasil, onde já está na semifinal e pode faturar uma bolada com uma classificação e um eventual título. Com os problemas financeiros que apresenta, essa cenário seria muito benéfico.

Próximo jogo

Agora vejamos como o time vai se comportar após a eliminação. No domingo (4) tem clássico contra o Atlético-MG, pelo Brasileirão, às 19h, no Independência. Uma vitória é uma boa injeção de ânimo para o jogo de ida contra o Internacional, na quarta-feira (7), pela Copa do Brasil. Seis jogos sem fazer gols, recorde negativo na história do clube, e uma vitória em 17 jogos. O Cruzeiro precisa reagir.

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Maic Costa nasceu em Ipatinga, mas se radicou na Região dos Inconfidentes mineiros. Formado em Jornalismo na UFOP, em 2019, passou por Estado de Minas, Superesportes, Esporte News Mundo, Food Service News e Mais Minas. Atualmente, é setorista do Cruzeiro na Trivela.