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Um estudo divulgado pela Folha e realizado pelo Ipead, Instituto de Pesquisas Econômicas da UFMG, aponta que o custo de vida em Mariana é 9,4% maior do que em João Monlevade, município escolhido como base de comparação por ter porte econômico semelhante. A principal diferença está nos setores de habitação e despesas pessoais, onde os preços são, respectivamente, 27% e 24% mais altos para quem vive na cidade histórica.
Os dados foram levantados em março, a partir de 2.352 cotações em 873 estabelecimentos de Minas Gerais e Pará, estados que concentram as maiores atividades minerárias do país. Mariana foi um dos três municípios minerados analisados, ao lado de Parauapebas (PA) e Conceição do Mato Dentro (MG).
No caso marianense, os custos de habitação incluem aluguel, combustíveis e energia elétrica residencial. Segundo Fabrício Missio, coordenador da pesquisa e presidente do Ipead, os preços mais altos estão ligados à pressão exercida pela mineração.
“Os salários ligados ao setor são maiores e aumentam o poder de compra desses trabalhadores, o que acaba encarecendo o mercado local”, explica.
De acordo com o levantamento, não há nenhum setor em que Mariana apresente preços mais baixos do que João Monlevade. Isso significa que moradores fora da cadeia direta da mineração, como trabalhadores terceirizados e famílias de baixa renda, acabam sofrendo com um peso maior no orçamento doméstico.
O estudo também alerta que a concentração de renda impulsionada pela mineração gera demanda adicional sobre serviços públicos de saúde, educação e assistência social, já que a população de menor renda tem menos condições de absorver os impactos. Para o presidente da Amig, Marco Antônio Lage, “o ciclo da mineração, quando não é acompanhado de planejamento urbano e diversificação econômica, aprofunda desigualdades e pressiona os municípios com custos sociais elevados”.
Em Mariana, além da atuação da Vale, a presença da Samarco reforça o papel do setor mineral na economia local. O crescimento rápido da população e a renda concentrada entre empregados do setor acabam criando um ambiente em que o custo de vida segue em alta, um desafio para quem não está inserido diretamente na mineração.