O leilão de muitas das rodovias estaduais de Minas Gerais, promovido recentemente pelo governo de Romeu Zema (Novo), despertou expectativas de modernização e melhorias na infraestrutura viária. No entanto, para milhares de famílias que vivem às margens dessas estradas, a medida não trouxe respostas concretas sobre segurança, reassentamento ou condições dignas de moradia. A falsa promessa de progresso contrasta com a dura realidade de quem convive diariamente com riscos e vulnerabilidade social.

Ao longo de dezenas de trechos estaduais, é comum encontrar casas construídas de forma improvisada, muitas vezes próximas a curvas perigosas ou em áreas de risco de deslizamento. Para essas famílias, os locais representam tanto um meio de transporte quanto uma ameaça constante. Apesar da transferência das concessões para a iniciativa privada, não há no edital ou nos anúncios oficiais qualquer plano que trate da situação dessas pessoas, mostrando que essas vidas, para o nosso governador, parecem não importar…
Especialistas em planejamento urbano e mobilidade criticam (mais uma vez) a abordagem adotada pelo poder executivo estadual. Segundo eles, a concessão de estradas sem um projeto social estruturado evidencia uma política voltada exclusivamente para o lucro e eficiência operacional, desconsiderando impactos humanos e sociais. “O leilão beneficia concessionárias e investidores, mas ignora o direito à moradia e a segurança de quem já vivia ali antes da iniciativa”, aponta um urbanista de Belo Horizonte.
O problema não é recente. Há anos, moradores das margens de rodovias estaduais enfrentam dificuldades como falta de saneamento básico, exposição a acidentes e ausência de alternativas de transporte coletivo. A concessão das estradas, embora num primeiro momento promova investimentos em pavimentação e fiscalização, não altera essas condições. Pelo contrário, a intensificação do tráfego pode aumentar os riscos para os residentes.
Durante entrevistas realizadas em trechos próximos a Ouro Preto e Mariana, moradores relataram o sentimento de abandono. “A estrada vai melhorar, mas a gente continua aqui, correndo risco. Ninguém falou da nossa situação”, afirma uma moradora de um pequeno distrito às margens da MG-129. A fala revela uma percepção generalizada: as políticas de infraestrutura em nosso estado, infelizmente, seguem dissociadas da realidade social local.
O governo de Minas Gerais, por meio da Secretaria de Transportes, afirma que medidas compensatórias serão discutidas posteriormente. No entanto, não há prazos definidos nem garantias de reassentamento ou indenização para aqueles que vivem em áreas de risco. Essa indefinição reforça a impressão de que as pessoas que residem às margens das rodovias não são prioridade na agenda estadual.
Organizações de direitos humanos, parlamentares progressistas e associações comunitárias têm pressionado por políticas públicas que integrem infraestrutura e proteção social. Propostas realmente preocupadas com a qualidade de vida dessas famílias, precisam incluir programas de reassentamento, regularização fundiária e melhoria de acesso a serviços básicos. Até o momento, contudo, nenhuma dessas iniciativas foi incorporada ao plano oficial do governo, reforçando a sensação de abandono.
Especialistas regionais também alertam para os impactos de longo prazo. Sem atenção social, o crescimento das rodovias pode agravar desigualdades e gerar conflitos locais. Além disso, a valorização imobiliária prevista nas regiões próximas às concessões dificilmente beneficiará os atuais moradores, que não têm meios de se adaptar às mudanças sem apoio público.
Enquanto isso, a população continua vivendo à sombra das rodovias, enfrentando riscos diários e sem perspectivas claras de melhoria. O contraste entre o falso discurso de modernização e a realidade social evidencia lacunas na gestão estadual, que parecem priorizar resultados econômicos privados em detrimento do bem-estar de cidadãos vulneráveis.
O desafio, portanto, permanece: como conciliar a expansão da infraestrutura com a proteção das pessoas que nela habitam? Sem respostas concretas, o leilão das estradas de Minas Gerais permanece incompleto, e quem vive às margens continua à espera de políticas públicas que efetivamente considerem suas necessidades.