‘Um Conto de Natal’: Por que a obra de Charles Dickens ainda é atual e transformadora?

João Paulo Silva
‘Um Conto de Natal’: Por que a obra de Charles Dickens ainda é atual e transformadora?

No clássico atemporal de Charles Dickens, “Um Conto de Natal” (“A Christmas Carol”), Ebenezer Scrooge surge como um personagem que simboliza a redenção. A transformação de alguém avarento e solitário para uma pessoa benevolente e generosa. Trata-se de uma narrativa alegórica que se tornou um ícone cultural, reconhecida mundialmente. Talvez seja a obra literária que mais representa o espírito natalino.

Dickens apresenta logo de início um retrato vívido de Scrooge: ele é descrito como “um velho sovina, avarento, mesquinho, unha de fome e ganancioso! Duro e áspero como uma pedra de amolar, não era possível arrancar dele a menor faísca de generosidade.”. Em outras palavras, uma pessoa consumida pela busca incessante de riqueza, indiferente ao bem-estar dos outros. Seu famoso bordão “Que bobagem!” expressa seu desprezo pelo Natal e pela vida alheia.

A trajetória de Scrooge sugere que ele não nasceu assim, mas que fatores externos e experiências de vida foram determinantes para sua personalidade amarga. Dickens, através de sua narrativa, revela as escolhas e acontecimentos do passado de Scrooge que o conduziram até aquele ponto. O leitor passa a ter ciência disso a partir das experiências sobrenaturais que o personagem tem no decorrer da história, onde ele é guiado pelos fantasmas do Natal Passado, Presente e Futuro.

O primeiro, o Espírito do Natal Passado, mostra cenas da juventude de Scrooge, incluindo sua solidão na infância, momentos de alegria com seu antigo patrão e o rompimento de seu noivado devido à sua ganância. O segundo, o Espírito do Natal Presente, revela como outras pessoas, inclusive a pobre família Cratchit, celebram o Natal com afeto, apesar das dificuldades. O terceiro, o silencioso Espírito do Natal Futuro, apresenta um futuro sombrio.

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Com este enredo, Dickens transmite ao leitor a ideia de uma história sobre um homem confrontando as consequências de suas escolhas ao longo da vida, algo com que todos podemos nos identificar. Todos nós precisamos refletir sobre nosso passado ao longo do caminho. Se não o fazemos, a vida encontra uma maneira de nos mostrar.

Ao acordar na manhã de Natal, Scrooge é outra pessoa. O homem que antes era insensível e egoísta renasce com um espírito de generosidade e amor ao próximo. Isso mostra que nunca é tarde demais para fazer mudanças que tornem o nosso mundo um lugar melhor. Não podemos mudar o passado, mas temos até o último milésimo de segundo para refletir e mudar os rumos de nossas vidas.

A redenção de Scrooge é uma prova do poder transformador da autorreflexão e da capacidade de mudança que existe em cada um de nós. Dickens criou uma parábola e uma fábula atemporal, lembrando-nos de examinar nossas vidas, aprender com o passado e abraçar a oportunidade de uma transformação que nos é ofertada constantemente. A obra convida à reflexão sobre valores humanos e sociais: é sobre tirar o olhar de si mesmo e direcionar para o outro, no sentido de entender, acolher e, se for possível, ajudar.

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João Paulo Silva, nascido em Barueri/SP e bacharel em Letras pela Universidade Estácio de Sá, pós-graduado em Revisão de Texto e em Linguística e Análise do Discurso. Contato: joaopaulobarueri@outlook.com