Venda de mina de ouro em Minas marca saída da Equinox Gold do Brasil e amplia presença chinesa no setor mineral brasileiro

Negócio de mais de US$ 1 bilhão inclui a Mina RDM, em Riacho dos Machados, no Norte de Minas, e reposiciona o controle do ouro no estado

Rodolpho Bohrer
Venda de mina de ouro em Minas marca saída da Equinox Gold do Brasil e amplia presença chinesa no setor mineral
Operação de mineração de ouro em Minas Gerais — Crédito: Equinox/reprodução

A mineração em Minas Gerais voltou ao centro de uma operação bilionária no mercado internacional. A Equinox Gold anunciou a venda de 100% de seus ativos no Brasil para uma subsidiária do grupo chinês CMOC, em um negócio avaliado em US$ 1,015 bilhão. Entre os ativos negociados está a Mina RDM, localizada no município de Riacho dos Machados, no Norte de Minas.

Embora o pacote inclua também operações no Maranhão e na Bahia, é a mina mineira que concentra atenção regional. A RDM é uma das principais produtoras de ouro em atividade em Minas Gerais e desempenha papel relevante na economia local, tanto pela geração de empregos diretos quanto pela arrecadação de tributos e compensações financeiras.

Pelos termos do acordo, a Equinox Gold receberá US$ 900 milhões em dinheiro no fechamento da transação, previsto para o primeiro trimestre de 2026. Além disso, está previsto um pagamento contingente de até US$ 115 milhões, condicionado ao volume de produção alcançado um ano após a conclusão do negócio. A operação ainda depende de aprovações regulatórias, mas não está sujeita a condições de financiamento.

Minas Gerais no centro da estratégia chinesa

A entrada da CMOC no segmento de ouro em Minas reforça uma tendência observada nos últimos anos: o avanço de grupos chineses sobre ativos estratégicos do setor mineral brasileiro. No caso mineiro, a aquisição da Mina RDM amplia a presença da companhia em um estado historicamente associado à mineração, tanto pelo volume de produção quanto pela diversidade de minerais explorados.

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A CMOC já mantém operações relevantes no Brasil, com destaque para a produção de nióbio e fertilizantes fosfatados. No entanto, até então, sua atuação estava concentrada em Goiás e São Paulo. A incorporação da mina em Riacho dos Machados marca a entrada direta da empresa no território mineiro no segmento aurífero.

A companhia chinesa chegou ao Brasil em 2016, quando adquiriu os ativos de nióbio e fosfatos da Anglo American por US$ 1,7 bilhão. Desde então, consolidou-se como a segunda maior produtora global de nióbio e uma das principais fornecedoras de fertilizantes fosfatados do país. Em 2024, a empresa registrou produção recorde de 10.024 toneladas de nióbio e 1,18 milhão de toneladas de fertilizantes.

Com a compra das operações de ouro, a CMOC diversifica seu portfólio no Brasil e amplia sua exposição a metais preciosos, considerados estratégicos em um cenário de instabilidade econômica global.

Impactos regionais e leitura econômica

Em Minas Gerais, a mudança de controle da Mina RDM é observada com atenção por autoridades locais, trabalhadores e fornecedores. Embora a transação não envolva, neste momento, anúncios sobre alterações operacionais, a troca de controle pode influenciar decisões futuras sobre investimentos, expansão produtiva e gestão ambiental.

A mineração de ouro no Norte de Minas tem peso significativo em municípios de menor base econômica, como Riacho dos Machados, onde a atividade mineral representa parcela relevante da arrecadação municipal e do mercado de trabalho formal. A continuidade da operação, independentemente do controlador, é vista como fator-chave para a estabilidade econômica da região.

Especialistas do setor avaliam que grupos chineses tendem a adotar estratégias de longo prazo em ativos minerais, priorizando escala produtiva e integração global das cadeias. Esse perfil pode resultar em novos investimentos, mas também exige atenção redobrada dos órgãos reguladores e das comunidades locais.

Movimento mais amplo no setor mineral

A aquisição da mina mineira ocorre em um contexto mais amplo de expansão chinesa na mineração brasileira. Nos últimos anos, empresas do país asiático têm ampliado presença em diferentes segmentos, disputando ativos de ouro, cobre, níquel, estanho e minerais considerados críticos para a transição energética.

Em 2024, a China Nonferrous Mining Metal Company adquiriu a Mineração Taboca, no Amazonas, por US$ 340 milhões. No mesmo período, a Baiyin Nonferrous firmou acordo para compra da Mineração Vale Verde, produtora de cobre em Alagoas, por US$ 420 milhões. Segundo dados do Conselho Empresarial Brasil-China, os investimentos chineses no Brasil somaram US$ 4,2 bilhões em 2024, crescimento de 113% em relação ao ano anterior.

Minas Gerais, pela tradição mineradora e infraestrutura instalada, segue como um dos principais polos de interesse desses investimentos.

Saída estratégica da Equinox Gold

Para a Equinox Gold, a venda das operações brasileiras representa uma mudança clara de estratégia. A companhia decidiu concentrar seus ativos e projetos na América do Norte, reduzindo exposição a mercados considerados mais complexos do ponto de vista regulatório e operacional.

Segundo o CEO Darren Hall, os recursos obtidos com a venda permitirão uma reorganização profunda do balanço da empresa, incluindo a quitação de um empréstimo a prazo de US$ 500 milhões e de um financiamento de US$ 300 milhões junto à Sprott, além da redução da linha de crédito rotativo.

Após a conclusão da transação, o portfólio da Equinox Gold será composto por minas no Canadá, nos Estados Unidos e na Nicarágua. A projeção da empresa é alcançar produção anual entre 700 mil e 800 mil onças de ouro em 2026, considerando a entrada em plena capacidade de novos projetos.

Cláusula de desempenho

O contrato prevê ainda um mecanismo de pagamento adicional vinculado ao desempenho produtivo dos ativos vendidos, incluindo a mina em Minas Gerais. Caso a produção total atinja entre 200 mil e 280 mil onças de ouro no primeiro ano após o fechamento, a Equinox receberá 12,5% da receita correspondente. Se o volume ultrapassar 280 mil onças, o pagamento contingente será fixado no teto de US$ 115 milhões.

O desfecho da operação, previsto para 2026, tende a redesenhar o mapa da mineração de ouro em Minas Gerais, reforçando o papel do capital estrangeiro, especialmente chinês, em um setor historicamente central para a economia do estado.

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Sócio-proprietário e fundador do Mais Minas e jornalista em formação pela Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB). Redator de cidades, tecnologia e política, além de link builder na Agência MaisPost e assistente de edição de texto da Agência de Notícias do Sul da Bahia (Ansuba).